Por Carlos Mosca
Um dos aspectos mais apaixonantes do ciberespaço é a instauração da comunicação de forma diferente das outras mídias, aqui as mensagens são interativas e transformam-se instantaneamente. Cada receptor torna-se também emissor, interferindo, discutindo, concordando ou discordando, mas explorando os temas, cada um, pelo seu ângulo de visão, acrescentando suas idéias nesse espaço aberto e de alcance mundial que vai se construindo com impressionante rapidez.
Os Blogs são uma das tantas ferramentas de ampliação desse espaço de opinião pessoal-universal compartilhada e é bem gostoso assistir a esse fenômeno, quando criamos o nosso e vemos os comentários postados exibindo os tentáculos dessa rede de informações. A partir desse espaço é possível se construir um apanhado de idéias, uma espécie de “enciclopédia” de autoria coletiva, sobre assuntos que não estão disponíveis nos sites sobre assuntos globalizados e de interesse do grande público. Podemos utilizar como exemplo, um link criado a partir de um comentário sobre um dos artigos desse Blog. “Estive em um evento realizado pela ASCAP e CDL com os candidatos a prefeito e uma pergunta feita aos dois políticos me chamou a atenção. “Você acha o termo sulanca pejorativo?” (Emanoel Glicério – Diário da Sulanca – domingo 19 de out de 2008).
Essa pergunta foi, o input para o nascimento desse artigo, exatamente, a gota d’água que faltava para acionar uma vontade latente de opinar sobre essa questão, independentemente de saber sobre os comentários que se sucederam à pergunta nesse referido evento ou qual seja a opinião do nosso povo sobre o tema.
A mim fica muito nítido o enorme contraste entre o desenvolvimento econômico e o cultural na nossa cidade. O surgimento do debate acerca da marca Sulanca é algo muito interessante, enriquecedor e até lucrativo, mas o que me faz ter essa opinião é o fato de se levantar a hipótese dessa nossa marca, de alguma maneira, desvalorizar nossos produtos, utilizando-se até esse termo perjorativo, no sentido da palavra mesmo! A questão é bastante outra, não é a marca Sulanca que nos desvaloriza, somos nós que a desvalorizamos com as nossas práticas.
O desinteresse pelo que é realmente nosso em detrimento do estrangeiro, do globalizado, do massificado, é algo já ultrapassado como ponto de partida para qualquer campanha publicitária sobre nosso produto, aqui ou em qualquer lugar do mundo. Nesse mundo que está à procura do singular, alguém achar que uma marca forte, de sonoridade ímpar, divulgada aos quatro ventos, de boca em boca por esse Brasil afora através dos seus bravos comerciantes “bandeirantes” que cruzaram o asfalto e os ares, desbravaram as grandes cidades trazendo do sul a nossa primeira estrangeira, a helanca, ou por milhares de estrangeiros clientes que nos visitam a cada feira, ou por nossa indústria empreendedora que se faz presente nos grandes eventos da área pelo mundo, enfim, já bastante conhecida, porém disfarçada de confecção, somente por ser uma palavra vinda da França, estrangeira como nossa cidade está se tornando. A palavra confecção, pelo uso, adquiriu o sinônimo de produto da indústria do vestuário, mas na verdade designa um processo, enquanto que nossa Sulanca já nasceu produto final. Vamos perder o medo de assumir nossa verdadeira e forte identidade santacruzense e bater no peito dizendo: Sulanca sim!
Eu acho até uma ofensa, uma falta de delicadeza, até um pouco de desprezo com aquilo que nos alimenta a tanto tempo, que faz com que nossas mais prósperas empresas possam se destacar e receber prêmios, que nos propicia tanta coisa “chique”.
Chique é ser único, como a Sulanca, apesar de nossas peças de “confecções” que levam essa marca, não serem tão únicas assim. A mudança tem que ser estrutural e cultural, temos que rever nossos métodos e imprimir a singularidade e autenticidade da marca Sulanca em nossos produtos, só assim poderemos reverter a auto-estima baixa dos nossos conterrâneos que acham nossa marca perjorativa.
Ela não traz em sua grafia letras estrangeiras, não é fashion, mas é um dos elementos mais fortes da nossa identidade que tem que ser visto e divulgado por outro prisma.
RETIRADO DO BLOG DE CARLOS MOSCA